29 de out. de 2010

Pensadores da Educação: Howard Gardner




Valorizando o ser por inteiro
Gustavo Lourenção

Howard Gardner

O psicólogo americano de 56 anos é professor de Cognição e Educação e integrante do Projeto Zero, um grupo de pesquisa em cognição humana mantido pela Universidade de Harvard. Também leciona neurologia na Escola de Medicina da Universidade de Boston. Escreveu dezoito livros.

O que ficou

A escola deve valorizar as diferentes habilidades dos alunos e não apenas a lógico-matemática e a lingüística, como é mais comum.

Um alerta

Para que as diversas inteligências sejam desenvolvidas, a criança tem de ser mais que uma mera executora de tarefas. É preciso que ela seja levada a resolver problemas.
Dezoito anos se passaram desde que o livro Estruturas da Mente: Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, foi lançado nos Estados Unidos. Publicado no Brasil em 1994, ele causou um boom. De lá para cá, a teoria do psicólogo americano, que propõe a existência de um espectro de inteligências a comandar a mente humana, suscitou muitos comentários, contrários e favoráveis.

De acordo com Gardner, estas seriam nossas sete inteligências:

 Lógico-matemática: capacidade de realizar operações matemáticas e de analisar problemas com lógica. Matemáticos e cientistas têm essa capacidade privilegiada.
 Lingüística: habilidade de aprender línguas e de usar a língua falada e escrita para atingir objetivos. Advogados, escritores e locutores a exploram bem.
 Espacial: capacidade de reconhecer e manipular uma situação espacial ampla ou mais restrita. É importante tanto para navegadores como para cirurgiões ou escultores.
 Físico-cinestésica: potencial de usar o corpo para resolver problemas ou fabricar produtos. Dançarinos, atletas, cirurgiões e mecânicos se valem dela.
 Interpessoal: capacidade de entender as intenções e os desejos dos outros e, conseqüentemente, de se relacionar bem com eles. É necessária para vendedores, líderes religiosos, políticos e, o mais importante, professores.
 Intrapessoal: capacidade de a pessoa se conhecer, incluindo aí seus desejos, e de usar essas informações para alcançar objetivos pessoais.
Musical: aptidão na atuação, apreciação e composição de padrões musicais.

Atualmente, Gardner admite a existência de uma oitava inteligência, a naturalista, que seria a capacidade de reconhecer objetos na natureza, e discute outras, a existencial ou espiritual e até mesmo uma moral — sem, no entanto, adicioná-las às sete originais.
Nílson José Machado, professor do Departamento de Metodologia da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), acredita que Gardner não aprofundou seus estudos. "Houve apenas um espraiamento horizontal." Apesar disso, ele reconhece que a discussão em torno da teoria trouxe alertas importantes para quem trabalha com educação. "A escola deve considerar as pessoas inteiras e valorizar outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos lingüístico e lógico-matemático", afirma.
Kátia Smole, que defendeu sua dissertação de mestrado sobre o assunto na USP, afirma que é comum o conceito ser empregado indevidamente por várias escolas. "Ter aulas de música não garante aos estudantes desenvolver a inteligência musical", exemplifica. "Para que isso aconteça é necessário que o aluno pense sobre aquilo que faz e esteja em situação de criação ou resolução de problemas."
No Colégio Sidarta, em Cotia, na Grande São Paulo, a teoria de Gardner é a base da proposta pedagógica, criada com a assessoria da Escola do Futuro, da USP. "Atendemos às diferenças individuais e respeitamos as potencialidades dos alunos", diz a diretora Elaine Moura. Lá, os alunos ora estudam juntos, ora nas estações de trabalho (cantos nas salas onde são organizados diferentes recursos pedagógicos). "É importante que o professor favoreça essas múltiplas inteligências. Por isso, todos os estudantes passeiam pelas diferentes estações."

 
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