24 de jul. de 2010

Palmada educa?



Só um tapinha não dói. Será?
Confira o que diz a especialista sobre pais que insistem em bater nos filhos no lugar de educar
Rita Calegari

Quem quando criança não tomou um tapa dos pais? Eu tomei alguns, até porque era uma criança comportada e não dava muito trabalho. Também tinha tanto medo que meus pais me batessem que criava o menor número de situações possíveis para ganhar esse tipo de castigo. Mas eu confesso: fiz muita coisa escondida – algumas até perigosas – sem que eles desconfiassem. Funciona assim, quando usamos a ameaça no lugar do diálogo.
Um tapa educa? Duvido. Se bater educasse, o mundo já seria um lugar muito melhor.
O tapa intimida, dá medo, mostra quem é o mais forte. Bater reprime, não educa. Bater encurta a conversa – mata a possibilidade de que o diálogo exista. Bater cala a boca da discussão e desperta a mágoa.
Educar é ter trabalho. É suor e insistência. Educar não toma atalhos, nem abrevia conversas. Educar as estimula. Quando educamos, preparamos a criança para ser um cidadão. Um cidadão que fará parte da sociedade e deve contribuir para que essa seja um lugar mais justo e digno. Para que a sociedade seja assim, respeitar a autonomia, fazer o bem e justiça são valores necessários. A bioética discute esses valores há anos. Na escola, seu filho já deve ter ouvido falar disso. E, em casa, ele estará ouvindo sobre o quê? Se você acha que se educa uma pessoa com castigo corporal, seu filho está aprendo a intolerância, a injustiça, a brutalidade. Quando ele crescer, vai usar essas ferramentas para resolver seus problemas e conflitos com mais facilidade que uma criança que aprendeu o valor do diálogo.
O tapa faz pela educação o que a repressão faz na natureza. Impede com uma barreira o curso de um rio. Ele será contido num primeiro momento, mas sua força se acumulará e, no tempo devido, o rio se revoltará e destruirá a barreira. Com os filhos é igual. Você pode reprimir – porque eles são pequenos, vulneráveis e frágeis - e pode ser relativamente fácil e rápido. Mas saiba que você está postergando o problema para o futuro. A criança cresce. E na adolescência, fase natural de questionamentos, a criança tratada com repressão possivelmente vai se revoltar contra seus opressores.
Não tenha pressa para educar. Invista em atitudes que possam frutificar no futuro. Mostre ao seu filho que, apesar do seu tamanho e força, você escolhe usar a inteligência. Nessa relação, o respeito mostra a ele o que o medo jamais ensinará: a confiar nos pais.

*Rita Calegari é psicóloga do Hospital São Camilo (SP) e há 15 anos ouve em seu consultório histórias de adultos e crianças.

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