28 de out. de 2010

Pensadores da Educação: Célestin Freinet


Uma escola ativa e cooperativa
Denise Pellegrini

Célestin Freinet

Nascido em 1896 em Gars, um vilarejo ao sul da França, o professor primário não chegou a concluir seus estudos na Escola Normal de Nice. Com o início da 1a Guerra, alistou-se e participou dos combates. Em 1920, iniciou a carreira docente, construindo os princípios de sua prática. A educação, a seu ver, deveria proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real. Faleceu em 1966.

O que ficou

Ninguém avança sozinho em sua aprendizagem. A cooperação é fundamental.

Um alerta

Levar a turma a aulas-passeio não faz do professor um praticante da pedagogia de Freinet. É preciso considerar a realidade em que os alunos estão inseridos.
Jornal escolar, troca de correspondência, cantinhos pedagógicos, trabalho em grupo, aulas-passeio. Práticas atuais, presentes em muitas escolas, elas nada mais são do que idéias defendidas e aplicadas pelo educador Célestin Freinet desde os anos 20 do século passado, na França. "Ele propunha uma mudança da escola, que considerava teórica, desligada da vida", explica Marisa Del Cioppo Elias, professora do Departamento de Tecnologia da Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Sua sala de aula era prazerosa e bastante ativa. O trabalho é o grande motor de sua pedagogia."
As práticas de ensino propostas por Freinet são fruto de suas investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía o conhecimento. Ele observava muito seus alunos para perceber onde tinha de intervir e como despertar neles a vontade de aprender. O educador compreendia que a aprendizagem se dá pelo tateio experimental. "Quando a criança faz um experimento e dá certo, a tendência é que repita aquele procedimento e vá avançando", descreve Marisa. Mas, de acordo com Freinet, ela não avança sozinha. Tanto é assim, que a cooperação está entre os pontos fundamentais de sua pedagogia.
A interação entre o mestre e o estudante também é essencial para a aprendizagem. O professor consegue essa sintonia levando em consideração o conhecimento das crianças, fruto de seu meio. Para Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do Núcleo Freinet Cidade de São Paulo, estar em contato com a realidade em que vivem os alunos é fundamental. "Professores que levam sua turma a aulas-passeio e organizam sua sala em cantinhos, mas que ignoram aspectos sociais e políticos ao redor da escola, não estão de acordo com o que propunha o educador."
Na Escola Freinet de Natal, as idéias do mestre francês são a essência do projeto pedagógico. "A escola traz o que está fora para dentro e procura dar sentido a todo o trabalho realizado aqui por meio dessa relação de aplicabilidade na vida", afirma Claudia Santa Rosa, fundadora e diretora da instituição até o final do ano passado. Para Freinet, aproximando as crianças dos conhecimentos da comunidade elas podem transformá-los e, assim, modificar a sociedade em que vivem. Esse é um trabalho de cidadania, de democratização do ensino. "Sua pedagogia traz embutida uma preocupação com a formação de um ser social que atua no presente", avalia Claudia.
A Escola Freinet é mantida por uma cooperativa de professores, bem ao gosto do mestre francês, sem ser radical. "Buscamos respaldo em outras teorias, como as de Piaget e Vygotsky", avisa a diretora. "O próprio Freinet dizia que o educador deve ter a sensibilidade de atualizar sua prática e isso, aliás, é o que faz com que ele ainda seja moderno."
Na escola de Natal, as turmas desenvolvem atividades coletivas, em grupo e individuais. "Cada aluno cria seu plano de trabalho, escolhendo entre as possibilidades apresentadas pelo professor", conta. Alguns pesquisam em livros, outros produzem textos, desenham ou pintam nos vários cantinhos da sala. "Nesse momento, há uma relação estreita com a teoria das inteligências múltiplas", destaca Claudia. "No final, todos socializam o que foi produzido."
Com base em procedimentos dessa natureza, fica mais fácil pôr em prática a pedagogia do êxito, defendida pelo educador francês. O sucesso da criança é o produto de seu trabalho que, ao final do dia, é apresentado aos colegas. "Isso eleva a auto-estima da turma", finaliza Marisa

 
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