23 de out. de 2010

Pensadores da Educação: Emilia Ferreiro



A vanguarda na alfabetização
Denise Pellegrini


Emilia Ferreiro

Psicolingüista argentina, doutorou-se pela Universidade de Genebra, orientada por Jean Piaget. Inovou ao utilizar a teoria do mestre para investigar um campo que não tinha sido objeto de estudo piagetiano. Aos 62 anos, é pesquisadora do Instituto Politécnico Nacional, no México.

O que ficou

As crianças chegam à escola sabendo várias coisas sobre a língua. É preciso avaliá-las para determinar estratégias para sua alfabetização.

Um alerta

Apesar de a criança construir seu próprio conhecimento, no que se refere à alfabetização, cabe a você, professor, organizar atividades que favoreçam a reflexão sobre a escrita.
A rede estadual do Ceará mantinha, até 1996, classes de alfabetização. Anteriores ao Ensino Fundamental, elas retinham crianças por anos a fio fora do ensino regular porque não conseguiam aprender a ler e escrever. A rede cearense é hoje organizada em ciclos, o que permite aos alunos se alfabetizar ao longo dos anos. Com uma proposta calcada nas idéias de Jean Piaget, Lev Vygotsky e Paulo Freire, as escolas estaduais cearenses têm, no que se refere especificamente à alfabetização, a psicolingüista argentina Emilia Ferreiro como referência básica. "Respeitamos o nível de desenvolvimento dos estudantes, verificando em primeiro lugar em que altura do processo da leitura e da escrita eles estão", conta Lindalva Pereira Carmo, responsável pela Coordenadoria de Desenvolvimento Técnico e Pedagógico do Estado.
Diagnosticar quanto os alunos já sabem antes de iniciar o processo de alfabetização é um preceito básico do livro Psicogênese da Língua Escrita, que Emilia escreveu com Ana Teberosky em 1979. A obra, um marco na área, mostra que as crianças não chegam à escola vazias, sem saber nada sobre a língua. De acordo com a teoria, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada:

 pré-silábica: não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada;

 silábica: interpreta a letra à sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada letra;

 silábico-alfabética: mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas;

 alfabética: domina, enfim, o valor das letras e sílabas.

Hoje, o conhecimento sobre esse processo continua avançando. "Analisar que representações sobre a escrita o estudante tem é importante para o professor saber como agir", afirma Telma Weisz, consultora do Ministério da Educação e autora de tese de doutorado orientada por Emilia Ferreiro. "Não é porque o aluno participa de forma direta da construção do seu conhecimento que o professor não precisa ensiná-lo", ressalta. Ou seja, cabe a você organizar atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre a escrita, porque é pensando que ela aprende.
"Apesar de ter proporcionado aos educadores uma nova maneira de analisar a aprendizagem da língua escrita, o trabalho da pesquisadora argentina não dá indicações de como produzir ensino", avisa a educadora Telma. Definitivamente, não existe o "método Emilia Ferreiro", com passos predeterminados, como muitos ainda possam pensar. Os professores têm à disposição uma metodologia de ensino da língua escrita coerente com as mudanças apontadas pela psicolingüista, produzida por educadores de vários países.
"Essa metodologia é estruturada em torno de princípios que organizam a prática do professor", explica Telma. O fato de a criança aprender a ler e escrever lendo e escrevendo, mesmo sem saber fazer isso, é um desses princípios. Nas escolas verdadeiramente construtivistas, os alunos se alfabetizam participando de práticas sociais de leitura e de escrita. A referência de texto para eles não é mais uma cartilha, com frases sem sentido.
No Ceará, por exemplo, os estudantes aprendem a ler em rótulos de produtos, propagandas e bulas de remédio, além de ter à disposição muitos livros. "Com a implantação dos ciclos, os professores de todas as séries passam a ser responsáveis pelo processo de aquisição da leitura e da escrita", completa Lindalva.



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