13 de jun. de 2010

Educação e Afetividade.


Educação afetiva ou controladora? Foco no conteúdo ou em valores?
José Manuel Moran

Recebo, de vez em quando, e-mails como este:
"Olá professor Moran, lembra de mim? Você me deu aula no primeiro semestre de 2006. Estou escrevendo este e-mail em agradecimento, pois uma vez você me disse que eu tinha potencial e eu acreditei nisso e muito. Hoje escrevo também para lhe convidar a participar do lançamento do livro ***, no qual participo com um conto. Encaminho anexado o convite, gostaria muito que pudesse ir. Um grande abraço e mais uma vez obrigada por acreditar em mim. Roberta".
Cada vez me convenço mais de que na educação o incentivo, o apoio é mais importante que a cobrança, o controle. Quando conseguimos motivar, incentivar o aluno ele aprende sem nós, ele aprende sozinho, ele corre atrás do que precisa. Quando queremos controlar o processo obtemos alguns resultados imediatos, mas não sabemos o que acontece depois, não sabemos se os alunos continuam com o desejo de aprender ou simplesmente executam algumas atividades supervisionadas enquanto estamos por perto. Por isso, a relação de confiança, afetiva, de apoio é fundamental para obter resultados a longo prazo.
A grande inclusão que precisamos na educação não é a tecnológica – embora necessária – mas a afetiva e a de valores: Inclusão afetiva: acolher os alunos, valorizá-los, dar-lhes força, esperança, entusiasmo. Alunos motivados vão mais longe, caminham com mais autonomia. A afetividade é um componente fundamental pedagógico e contribui decisivamente para o sucesso pessoal e grupal.
A outra grande inclusão é a de valores: o educador ajuda muito o aluno se ensina o que pratica, se ele se mostra como é, como uma pessoa em desenvolvimento, com contradições, mas que procura ser coerente entre o que pensa e faz. Numa sociedade que valoriza muito a aparência (no sentido corporal e no sentido de representar papéis), é fundamental termos educadores que mostrem coerência entre o que ensinam e praticam, que se apresentem como seres em crescimento, com contradições, com acolhimento e incentivo. Num mundo de tanto faz de conta, de tantas aparências e de tantas mentiras, educar dentro da verdade e da coerência já é uma grande inovação.
Além da inclusão digital precisamos da inclusão afetiva e ética: termos educadores e gestores confiáveis, que inspirem confiança, não porque sabem tudo, mas porque procuram ajudar os alunos a caminhar por si mesmos, a aprender juntos, a acreditar nas possibilidades de cada um.
O educador é um profissional cujo papel transcende a matéria que ele trabalha. Além da competência intelectual, de ajudar os alunos a compreender certos assuntos, ele mostra, expressa e trabalha – direta e indiretamente – valores, visões de mundo, sentimentos, modelos de vida. Quanto mais ele aprende a integrar tensões e contradições, melhor mostrará aos alunos como fazê-lo no dia a dia. Quanto mais avança na compreensão do mundo, no equilíbrio emocional, na capacidade de trocar afeto, mais ajuda os alunos a acreditarem em si mesmos, a quererem avançar também, a terem esperança no futuro. Se o educador, além de conhecer bem os temas do seu curso, mostra um processo rico de aprendizagem na vida, de observação, de interação, contribuirá muito para que os alunos –ao menos uma parte – reflitam mais, acreditem mais, desejem crescer como pessoas e como profissionais.
Quando vejo professores que impõem a aprendizagem pela força ou pelo medo, sinto pena de todos – professores e alunos – porque os professores não aprenderam o principal - conteúdo sem vida é pouco significativo - e os alunos poderão acreditar que a aprendizagem é complicada e difícil, o que complicará o desejo profundo de que acreditem que podem aprender por si mesmos.
Se numa instituição escolar temos muitos exemplos de professores controladores, o processo se complica para todos (permanecemos num modelo que não nos prepara para a autonomia). Se temos um equilíbrio entre o número de controladores e de incentivadores, os alunos podem ao menos comparar e escolher modelos de aprendizagem que considerem mais conveniente. Se temos muito mais educadores incentivadores do que controladores facilitaremos a crença e a escolha dos alunos por uma educação mais criativa, empreendedora e humana.
Diante de tantos grupos sociais que mostram que levar vantagem é melhor do ser honestos, que mentir é melhor do que a verdade, que preferem viver de aparências do que de autenticidade, precisamos de muitos gestores e educadores (não só nas escolas, mas em todas as instituições e grupos) que reafirmem o contrário: que vale mais a pena aceitar-se como pessoas em evolução, com contradições, mas com verdade e coerência do que viver no fingimento, do faz-de-conta.
A preocupação excessiva com a aparência (física, social) mostra a dificuldade de mudar valores que nos ajudariam a crescer mais, mas que contrariam interesses, negócios. O glamour que atribuímos a qualquer pessoa só pelo fato de aparecer na mídia mostra quanto a educação ainda precisa avançar.
A educação tem um papel político fundamental: mostrar a todos que podemos mudar esse estado de coisas que está aí, essa banalização da aparência, do consumo, da mentira e da enganação descarada de muitos grupos, que dificulta sobremaneira a credibilidade das propostas educativas cidadãs.

FONTE:
http://www.eca.usp.br/prof/moran/controladora.htm
 
LEIA MAIS! ACESSE:
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/educador-integral-423298.shtml
 
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/dona-licinha-423394.shtml
 

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