20 de jun. de 2010

Drogas: qual é a dimensão deste problema no Brasil?


O impacto das drogas na sociedade brasileira – busca de soluções
Ao longo dos últimos anos o Brasil sofreu um grande aumento do consumo de drogas. Infelizmente não houve uma mudança correspondente no vigor das políticas públicas que pudesse minimamente atenuar o impacto.
O objetivo desse documento é fazer um diagnóstico dessa situação e propor as melhores alternativas para o próximo governo.
Qual é a dimensão do problema das drogas no Brasil?

a) Álcool
O álcool é o responsável pelo maior problema das drogas no Brasil. A própria Organização Mundial da Saúde já apontou que nosso país, e na maioria dos países da América Latina, o consumo de bebidas alcoólicas é responsável por cerca de 8% de todas as doenças existentes. Esse custo social é 100% maior do que os países desenvolvidos como EUA, Canadá, e da maioria dos países europeus.
No primeiro estudo brasileiro, feito pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) em 2006, que avaliou o padrão de consumo do álcool na população, mostrou que 11% dos homens e 4% das mulheres adultas eram dependentes do álcool. Essa alta prevalência tem um impacto enorme na sociedade brasileira, pois podemos dizer que cerca de 1 em cada 7 famílias tem alguém com problemas significativos em relação ao álcool. O impacto nas crianças também é grande, pois 1 em cada 5 crianças já presenciou violência por alguém intoxicado pelo álcool em casa.
O álcool contribui especialmente para o aumento da violência no Brasil. Na violência entre casais o álcool está presente em mais de 45% dos casos. Cerca de 50.000 mortes ocorrem no trânsito todos os anos no Brasil e pelo menos metade dessas mortes são devidos ao consumo de álcool. Mesmo com a introdução da chamada “lei seca” que alterou para zero a concentração de álcool permitida para dirigir, convivemos com 25% dos motoristas alcoolizados dirigindo nos finais de semana. Nenhum outro país desenvolvido ou em desenvolvimento apresenta números como os brasileiros. Somos muito atípicos no cenário internacional ao tolerarmos esse nível de pessoas intoxicadas dirigindo veículos.
Entre os adolescentes o álcool é a principal droga de abuso, com 1 em cada 7 adolescentes (16%) tendo episódios regulares de excesso de consumo. O padrão de consumo dos adolescentes brasileiros é de ingerir grandes quantidades em episódios nos finais de semana, expondo-os a uma série de riscos como: acidentes, gravidez não planejada, e também risco de consumir outras drogas ilícitas. Apesar de termos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que proíbe a venda de bebidas para esse grupo, essa lei não é fiscalizada e está tornando o álcool a principal droga de entrada para um grupo substancial de jovens. Vale a pena destacar que embora o álcool seja uma droga lícita o uso pelos adolescentes é uma forma de uso ilícito de uma droga lícita.
Consenso Internacional sobre a Política do Álcool: No mês de maio de 2010 a Organização Mundial da Saúde passou uma resolução, apoiada pela grande maioria dos países, que busca a criação de uma política mundial sobre o álcool. À semelhança do que ocorreu com o cigarro a OMS criará as bases para implementar políticas baseadas em evidências em cada país. Essas políticas são: progressivamente aumentar o preço das bebidas alcoólicas, diminuir a disponibilidade social do álcool, proteger as crianças e os adolescentes da venda ilícita de bebidas, restringir a propaganda do álcool, reduzir o número de motoristas alcoolizados.

b) Maconha
A maconha é a principal droga ilícita utilizada no Brasil, com cerca de 10% dos adolescentes fazendo uso regular. Apesar do aumento regular do consumo dessa droga, fruto de uma percepção cada vez maior de que seja uma droga sem nenhum problema para a saúde, as evidências científicas cada vez mais apontam para uma série de problemas, como perda do rendimento acadêmico, acidentes de carro e aumento de uma série de doenças psiquiátricas como psicose e depressão. Estima-se que 1 milhão de usuários de maconha façam uso diário dessa substância, que são os dependentes.
Consenso Internacional sobre a Política da Maconha: Infelizmente pouco consenso existe sobre o que se deve fazer em relação à maconha. A maioria dos países está tentando buscar alternativas, mas até agora o consumo tende a aumentar universalmente. Com uma política mais liberal no Brasil estamos assistindo a um aumento de consumo maior do que a maioria dos países. Vários setores defendem ainda uma maior liberação em relação a essa droga, apesar dessa tendência de que cada vez mais jovens estejam consumindo maconha. Parece que estamos adotando uma política cada vez mais liberal, mesmo com resultados cada vez mais preucupantes. No mínimo o governo federal deveria ter uma posição mais clara sobre os riscos do consumo de maconha. Ao termos ministros de estado abertamente defendendo a legalização da maconha e até mesmo insinuando a defesa do uso torna o consumo dessa droga mais aceitável e a percepção dos riscos do seu uso mais leve.

c) Cocaína/Crack
O Brasil ficou livre da cocaína até meados dos anos 80, quando o preço de um grama dessa drogas estava ao redor de U$ 100, e a distribuição era somente para uma elite nas grandes cidades. Nesses últimos 30 anos a situação mudou dramaticamente. A partir dos anos 80 tivemos uma explosão do consumo de cocaína na forma em pó, fruto de uma dramática queda do preço, com um grama custando menos de U$ 2, e uma expansão enorme da rede de distribuição.
A partir de meados dos anos 90 o crack surgiu na cidade de São Paulo, de uma forma lenta, mas estável, expandiu-se para o interior do estado e mais recentemente nos últimos 10 anos expandiu-se para todo o país. O crack nada mais é do que a cocaína que pode ser fumada, tornando-a muito mais poderosa na criação de dependência e de uma série de problemas, em especial a violência. Todas as cidades onde o crack apareceu relatam um aumento de vários tipos de crimes. A primeira vítima da violência relacionada ao crack é a própria família do usuário. Pois é muito comum que comecem a roubar objetos diversos de suas próprias casas, como aparelhos de som, televisões, botijões de gás, etc para venderem e sustentarem o consumo. Esgotada essa fonte partem para crimes aquisitivos como roubo de carros, assaltos, etc.
Cerca de 1% da população brasileira faz algum consumo de cocaína, e aparentemente metade desse consumo é na forma de crack. As estimativas do próprio Ministério da Saúde de que temos 600 mil usuários de crack no Brasil é uma boa aproximação da realidade. O grande problema dos usuários do crack é que o volume de problemas de saúde, familiares e sociais que desenvolvem em paralelo ao consumo é muito grande. Essa é uma droga cuja dependência é muito grave e dificilmente o usuário consegue interromper o uso sem uma rede de tratamento muito bem organizada.
Estudo da UNIFESP que acompanha há 15 anos os primeiros 131 usuários de crack identificados no começo dos anos 90 na cidade de São Paulo, mostrou que cerca de 30% deles morreram nos primeiros cinco anos. A maior parte das mortes foi por homicídio. Esse estudo mostrou também as grandes dificuldades que os familiares tiveram em achar algum tipo de tratamento para os usuários. Se esse estudo puder servir para avaliar o que acontece no Brasil como um tudo, teremos a morte de pelo menos 180 mil usuários de crack nos próximos anos.
Consenso Internacional sobre a Política da Cocaína/Crack: As Nações Unidas num relatório recente mostrou que o Brasil é um dos poucos países no mundo onde o consumo de cocaína e crack está aumentando. A explicação deve ser por razões regionais. Nesse sentido a maior produção de cocaína por países como a Bolívia deve fazer parte da maior oferta e distribuição da cocaína e do crack em praticamente todos os estados do Brasil. Como não somos um país produtor de cocaína, estamos sujeitos a essas forças externas do tráfico internacional. Portanto deveríamos adotar políticas vigorosas para diminuir o fluxo de cocaína no Brasil. Já foi apontado também que toda essa cocaína não seria produzida se não houvesse uma rede sofisticada de produtos químicos para ajudar nesse processo. O único país da região com condições de fornecer esses produtos é o Brasil. Portanto esforços vigorosos deveriam ser feitos para identificar as empresas que estão fornecendo esses produtos e fecharmos esse fluxo de exportação clandestina.
No entanto temos mais de 600.000 usuários de crack em atividade, e para essa população vamos precisar de uma rede de tratamento mais organizada e que possa fazer uma diferença na evolução dessa doença. Devemos ter o compromisso de oferecer o tratamento necessário para essa população, pois o consumo de crack tem uma mortalidade maior do que a maioria das doenças cancerígenas.




Um comentário:

Tita Carré disse...

Oi tb amei teu blog , a minha foi professora por 52 anos e se ela ouvir eu dizendo foi ela fica braba comigo, pq ela sempre me diz q ser professora é mais que uma profissão, é um estado de espirito, ela está aposentada, mas não perde o jeito,rsrsrs, beijokas gaúchas p\ vc,
http://agulhaetricot.com
http://agulhaetricot.blogspot.com