18 de mai. de 2010

É possível estabelecer LIMITES nos dias atuais?


Dificuldades de impor limites

Houve um tempo em que criança não tinha vez, querer ou escolhas, não interrompia conversas de adultos e não era prioridade. Aquelas que quebravam estas regras eram castigadas fisicamente pelos pais, hábito aceito pela sociedade como normal e necessário.
Este tipo de relacionamento foi, no decorrer das últimas décadas, amplamente modificado e as crianças passaram a ser reconhecidas como indivíduos que têm vontade própria, direitos e necessidades específicas. O modo de educar os filhos tornou-se muito menos autoritário.
Como toda transição, esta mudança no tipo de relacionamento entre adultos e crianças originou turbulências e, enquanto novos valores eram assumidos, alguns pais e professores “perderam o rumo”, transformando a educação de crianças uma tarefa complicada, desgastante e muitas vezes frustrante.
Muitos confundiram a necessidade de mais liberdade com total falta de limites. Alguns livros e manuais sugeriram aos pais liberdade total para os filhos. Aqueles que foram filhos de pais muito autoritários acreditavam que deviam ser exatamente ao contrário com seus próprios filhos, enquanto outros ainda acreditam que não devem negar nada às crianças.
Esta situação ainda tem gerado muitas dúvidas e confusão nos pais, que muitas vezes se encontram perdidos e não sabem muito bem como lidar com seus filhos na questão de limites. Contribuem também para esta dificuldade o pouco tempo disponível aos filhos atualmente – e consequentemente um sentimento de culpa – e a influência do estímulo ao consumismo exagerado. Mas através de algumas regras básicas, bom senso, respeito e afeto a tarefa de estabelecer limites aos filhos não precisa ser tão difícil ou traumática. Quando se reconhece a sua importância e aprende-se sobre as características normais das crianças em suas diversas idades, temos expectativas realistas e aceitamos que o processo de aprendizagem é naturalmente lento, a missão de educar os filhos pode ser gratificante.


Porque estabelecer limites


Quando os adultos estabelecem regras e limites estão transmitindo às crianças alguns significados importantes, entre eles:
1) Ensinar que todos os indivíduos têm direitos e deveres.
2) Facilitar a compreensão de que os direitos de um acabam onde começam os direitos do outro. Quem não respeita esta regra geralmente são pessoas desagradáveis, inconvenientes, desajustadas, que não sabem se comportar em situações como em filas ou no trânsito.
3) Deixar claro que muitas vezes é necessário dizer e ouvir um “não” e que vamos ouvir esta palavra muitas vezes em nossas vidas (na escola, no trabalho, etc.).
4) Que podemos fazer muitas coisas, mas não todas.
5) Que é necessário tolerar a aprender a conviver com pequenas frustrações, pois elas fazem parte de nossas vidas.
6) Ensinar que muitas vezes é necessário adiar uma satisfação e que temos de esperar os momentos mais adequados para determinadas atividades, evitando o imediatismo.
7) Perceber a diferença entre necessidade e desejo (o calçado é necessário, o tênis que custa mais que salário mínimo é desejo).
8) Aprender a conviver com as diferenças sócio-econômicas típicas de nossa sociedade e que isto se reflete em diversos aspectos de nossas vidas, como padrões de consumo, por exemplo.
Os limites ensinam a criança a ter comportamentos adequados, a se proteger contra situações de risco e a respeitar os demais. Colocar limites é, portanto, um investimento. Sem eles estaremos criando filhos difíceis, alunos problemáticos e adultos desajustados socialmente.
As crianças e jovens precisam de limites, embora sistematicamente os contestem, o que é absolutamente normal e esperado.



Como estabelecer limites

Estabelecer limites não precisa ser tão complicado como muitos imaginam. É claro que não existem receitas únicas, padronizadas, pois as características familiares e individuais (tanto dos pais como dos filhos) são importantes para definir as escolhas e decisões a serem tomadas. Mas algumas orientações básicas são úteis para a maioria dos pais.
Alguns aspectos que precisam estar claros ao estabelecer limites:
a) Reconhecer que dificuldades não são por culpa dos filhos (contestar os limites é uma atitude normal em crianças e adolescentes).
b) Ter muita paciência, persistência e dedicação. É preciso ser mais persistente que a criança.
c) Ter afeto e amor incondicional, mesmo nas horas mais difíceis.
d) Reconhecer que educar é um processo longo, repetitivo e cujos resultados não são imediatos.
f) Reconhecer as próprias limitações (os erros, o fato de algumas vezes estar cansado e que é normal perder a calma em algumas situações).
g) Combater o sentimento de culpa por não atender a todos os desejos dos filhos.

E algumas regras básicas são as seguintes:
1) Agir de acordo com a idade da criança: é preciso conhecer a sua fase do desenvolvimento e sua capacidade cognitiva para transmitir informações, regras e limites. É necessário reconhecer a capacidade do filho em entender as regras e as conseqüências do não cumprimento das mesmas e ter expectativas coerentes e de acordo com a idade e características individuais da criança. Não exigir nem demais nem de menos.
2) Iniciar o mais cedo possível, antes de um ano de idade, quando a criança começa a perceber o significado de certas palavras, inclusive o “não”.
3) Manter a coerência entre os pais e demais familiares. A dificuldade é grande quando pai corrige e a mãe perdoa (ou vice-versa). Um não pode desautorizar o outro. E os demais familiares (como tios ou avós) não devem interferir nas decisões e atitudes dos pais. Os pais saberão que estão agindo certos quando os filhos disserem: “isto não é justo, vocês dois estão contra mim!”.
4) Dar o exemplo é a melhor forma de educar (melhor do que dar conselhos). Nas pequenas atitudes do dia a dia, como em filas, ao manifestar respeito às demais pessoas, ao exercer comportamento ético e honesto é possível mostrar às crianças quais comportamento são corretos e quais são inadequados ou inaceitáveis.
5) As regras devem ser claras, definidas e estáveis. Estabelecer de forma clara o que pode e o que não pode. Não dá para ficar mudando as regras com freqüência, pois isto confunde a criança em seu aprendizado. Não é possível mudar de atitude como quem muda de roupa. E as regras devem ser estabelecidas pensando na adequada educação da criança e não apenas no benefício dos pais.
6) É preciso ser persistente (mais do que as crianças). Se a criança insistir mil vezes em fazer algo errado, é preciso corrigi-la mil e uma vezes.
7) Cumprir o que foi dito. Se houve a ameaça de que o filho ficaria sem assistir TV se não fizesse os temas, é preciso cumprir a penalidade se a criança realmente não fez os temas. Sem voltar atrás ou “perdoar, ficar com peninha”. Os pais precisam ser claros, firmes, determinados, confiantes e tranqüilos. Não dá para ficar com pena porque a criança chorou ou ficou triste se você estiver confiante de que tomou a atitude correta.
8) Criticar o ato cometido em si e não o indivíduo ou sua personalidade. Deve-se reclamar que o quarto está bagunçado, mas não é necessário dizer que o filho é relaxado ou bagunceiro. Quando ele briga não dizer que é mau, se não estuda que é preguiçoso. Deve-se ressaltar o comportamento em si e não utilizar rótulos. Criticar e corrigir o gesto ou atitude, não a criança. Frases do tipo “você é” (egoísta, impossível, não tem jeito) qualificam a criança e não a sua atitude. E ela com certeza não merece estes “carimbos ou rótulos”.
9) E também, muito importante, lembrar que elogiar os bons comportamentos é fundamental, pois geralmente o mais comum é reclamarmos quando os filhos fazem coisas erradas. Lembrar que premiar não é dar coisas materiais, mas sim elogiar e demonstrar afeto. Não economizar elogios (um elogio vale muito mais que várias críticas). Os "prêmios" são imprescindíveis na socialização da criança, principalmente o sorriso de aprovação, o elogio verbal, o gesto afetuoso de um adulto querido. No entanto, a criança deverá se comportar de determinada forma, conscientemente, por opção e não para conquistar determinado prêmio.



Fonte: Aprendendo a Vida: http://montardo-ap.blogspot.com/2009/01/limites-i-importncia-dos-limites.html


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