7 de nov. de 2010

Pensadores da Educação: Paulo Freire.



O importante é ler o mundo
Denise Pellegrini


Paulo Freire

Nascido em 1921, no Recife, formou-se advogado em 1959, mas nunca exerceu a profissão. O ensino era sua paixão. Exilado após o golpe militar de 1964, foi para o Chile, onde escreveu Pedagogia do Oprimido (1968), livro que o tornou conhecido mundialmente. Morreu em 1997, em São Paulo, cidade da qual foi secretário de Educação de 1989 a 1991.

O que ficou

É preciso pôr fim à educação bancária, em que o professor deposita em seus alunos os conhecimentos que possui.

Um alerta

A técnica de silabação utilizada por ele em seu método de alfabetização de adultos está ultrapassada, ainda que a idéia de trabalhar com palavras geradoras permaneça bastante atual.
Mais do que um educador, Paulo Freire foi um pensador. Sua obra mais famosa, Pedagogia do Oprimido, dá as linhas da educação popular que desejava. Para ele, não havia educação neutra. O processo educativo seria um ato político, uma ação que resultaria em relação de domínio ou de liberdade entre as pessoas. De um lado, estaria a burguesia e, do outro, os operários. Uma pedagogia que libertasse as pessoas oprimidas deveria passar por um intenso diálogo entre professores e alunos.
Paulo Freire se opunha ao que chamava de educação bancária. "Esse tipo de ensino se caracteriza pela presença de um professor depositante e um aluno depositário da educação", afirma José Eustáquio Romão, diretor do Instituto Paulo Freire, de São Paulo, e professor do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (MG). "Quem é educado assim tende a tornar-se alienado, incapaz de ler o mundo criticamente."
A formação docente era uma preocupação constante do pesquisador pernambucano. "Ele acreditava que o educador deve se comportar como um provocador de situações, um animador cultural num ambiente em que todos aprendem em comunhão", explica Romão. Segundo o velho mestre, ninguém ensina nada para ninguém e as pessoas não aprendem sozinhas.
Essas e outras idéias de Freire estão hoje em grande evidência no meio educacional. São exemplos o conceito de escola cidadã (que prepara a criança para tomar decisões) e a necessidade de cada escola ter um projeto pedagógico que reconheça a cultura local. A gestão que acaba de se encerrar na Secretaria Municipal de Educação de Betim, em Minas Gerais, bebeu nessa fonte. A então secretária, Ana Maria da Silva Santos, afirma que todos têm voz dentro da escola. "Previmos a democratização da educação, em que a inclusão de todos, não só dos portadores de deficiência, é fator fundamental."
O projeto pedagógico de cada escola de Betim é definido com a participação dos alunos e da comunidade, que escolhem os diretores pelo voto direto. Conselhos pedagógicos discutem currículo, avaliação, conteúdo, calendário e metodologia. Foi criada também a escola de pais, um espaço de formação em que as famílias têm acesso a informações científicas e filosóficas. "Formados, eles podem participar mais ativamente dos fóruns decisórios", justifica Alfredo Johnson Rodriguez, coordenador da Divisão Pedagógica de Betim.
O município mantém ainda um programa de alfabetização de adultos, baseado no "método Paulo Freire", criado no início da década de 60, que tornou o educador conhecido internacionalmente. Até então, os adultos eram alfabetizados pelos mesmos procedimentos adotados com crianças. A mudança tinha como pressuposto a utilização de "palavras geradoras", termos que faziam parte da vida dos alunos. Eles, a seu ver, não deveriam apenas aprender a formar palavras fora de um contexto, mas compreender seu próprio papel na sociedade. O princípio do método permanece atual, apesar de a técnica de silabação em que estava baseado ser totalmente ultrapassada. De acordo com Romão, Freire tinha plena consciência de que era preciso atualizar suas idéias para avançar. "Ele dizia que antes de ensinar uma pessoa a ler as palavras era preciso ensiná-la a ler o mundo. Essa é a essência de suas idéias."


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